Cidades inteligentes, as cidades do futuro



"Uma cidade não é um computador. 
Parece uma verdade óbvia, mas precisamos dizê-la em voz alta e clara. A inteligência
urbana é mais do que processamento de informações." Shannon Mattern 

Esta afirmação de Shannon Mattern, professora de antropologia na New School for Social Research e também escritora sobre urbanismo e comunidades, foi feita em um artigo em 2017 sobre cidades do futuro. Ela na verdade quis chamar atenção para as várias dimensões do eco sistema cidade. A meu ver, este alerta se aplicará às cidades do futuro que também passamos a chamar de cidades inteligentes.

Sim, as cidades do futuro serão extremamente tecnológicas mas, a tecnologia será o sustentáculo robusto para alcançar objetivos governamentais, econômicos, sociais e de sustentabilidade, ou seja, não será a aplicação da tecnologia para enaltecer apenas a própria tecnologia. Se isto for alcançado é sinal de que elas são inteligentes.

Assim, o conceito de cidade inteligente abrange uma cidade tecnológica, com governança publica efetiva e transparente, geradora de riqueza, estabilidade social e sustentável.

Antes de entrarmos no assunto, vamos ver algumas informações importantes que influirão na construção de novas cidades e na adaptação das já existentes.

Atualmente somos 7,8 bilhões de habitantes na Terra e as cidades abrigam mais de 50% desta população. Até 2050 estima-se, segundo a ONU, que a população mundial alcance 9,8 bilhões de habitantes e, quase 68% dessas pessoas – 6,7 bilhões – viverão em áreas urbanas. Será um incremento de 2,5 bilhões de pessoas à população urbana do mundo até 2050, com quase 90% do aumento concentrado na Ásia e na África. Para termos um comparativo, hoje na América do Norte, mais de 81% da população moram em áreas urbanas. A América Latina e Caribe praticamente igualam aos EUA com 80% de urbanização, sendo a Europa a terceira colocada, com 74%. Na Ásia que tem 49% e na África com 41%, o processo de urbanização crescerá rapidamente.
 

Segundo o Word Economic Forum, um em cada oito urbanos reside em uma das 33 “megacidades” (aquelas com mais de 10 milhões de habitantes). Em termos econômicos, os resultados da urbanização foram notáveis. As cidades representam 80% do Produto Interno Bruto (PIB) global. Então, pensar num processo de desurbanização nesta altura está fora de cogitação. Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), as metrópoles consomem mais de 75% da produção de energia do mundo e geram 80% das emissões de gases de efeito estufa (GEE).

Uma outra informação importante é que esta urbanização ocupa apenas 2% da área do planeta demonstrando a alta densidade de pessoas por área.

O que fazer diante deste quadro e com previsão de mais urbanização, que  demandará mais provimentos de alimentos, água encanada, sistemas de esgoto, energia elétrica, ruas, transporte público, habitação, hospitais, escolas, áreas de lazer e comércio?

Como resposta mais provável voltamos os olhos para as cidades inteligentes.

Elas são a única solução para conter e reduzir as alarmantes repercussões ambientais e socioeconômicas que a urbanização provocará em nosso planeta.

No infográfico abaixo podemos ver as dimensões que cercam as cidades inteligentes. Pode-se criar mais interligações mas este exemplo básico é suficiente para a nossa abordagem. 



Pensar nestas cidades, imaginar como elas deveriam ser e voltar ao presente e começar a construí-las ou adapta-las é muito estimulante e encontraremos um número muito grande de ideias e planos para viabiliza-las. Com absoluta certeza temos hoje muitas pessoas de várias especialidades atuando e mais ainda, não haverá um modelo único. Vai depender muito das localidades, estágios das atuais cidades, cultura, financiamento, etc.

Diante das muitas possibilidade, gostaria de apresentar um cenário de uma cidade inteligente para provocar o seu imaginário.

Imagine uma cidade onde:

A sustentabilidade ecológica está presente

existe uma infraestrutura para coletar, limpar e armazenar as águas das chuvas para o seu reuso.

os tetos das construções são verdes e também com painéis solares: hortas no telhado ajudam na produção agrícola em pequena escala e os painéis na geração de energia renovável.

as hortas urbanas estão presentes nas comunidades que exploram técnicas avançadas de cultivo hidropônico para produzir alimentos no perímetro urbano.

há cultivo agrícola subterrâneo: instalações hidropônicas produzem frutas e legumes, sob luzes de LED, no subsolo de residências e escritórios.

as ruas também são verdes: filtragem da água e paisagismo com espécies endêmicas que fazem parte do ambiente urbano.

as áreas livres são como esponjas: todas as áreas verdes e a infraestrutura permitem a absorção da água pelo solo, garantindo a sustentabilidade dos lençóis freáticos.

há gerenciamento inteligente de resíduos sólidos: o lixo é um recurso para a geração de energia ou como fonte alternativa de materiais. Aterros abandonados são descontaminados para novo uso.

as áreas úmidas são recuperadas criando a permeabilização que protege das inundações.

o paisagismo é  estratégico: somente espécies endêmicas são plantadas nos jardins e parques, diminuindo a necessidade de irrigação.

As edificações são inteligentes

os edifícios incorporam elementos naturais e são, em grande parte, modulares. Os espaços podem ser rearranjados para atender a novos requisitos de moradias ou negócios.

os edifícios tem jardins suspensos no meio da edificação: áreas verdes intercaladas favorecem a circulação natural do ar, além de serem usadas como locais de sociabilidade.

os edifícios tem paredes e janelas solares: painéis solares instalados em todas as superfícies externas do edifício aproveitam a energia solar.

os edifícios aproveitam a luminosidade: prédios mais baixos melhoram luminosidade e circulação de ar no nível da rua, deixando ambientes mais salubres.

no telhado dos edifícios, turbinas eólicas desprovidas de pás, mais leves e baratas, geram energia suplementar.

Os espaços valorizam a interação social e a cultura

com menos carros nas ruas e mais plantas nas áreas internas, as pessoas encontram o ambiente adequado para o descanso e atividades recreativas,

acessibilidade completa aos portadores de deficiências, permitindo que todos desfrutem de serviços.

o patrimônio histórico é conservado e celebrado. 

as atividades recreativas, artísticas e de entretenimento são compartilhadas por meio de equipamentos de realidade virtual ampliada.

a diminuição dos carros nas ruas possibilita o aumento das vias reservadas aos pedestres

As comunidades são autônomas

as comunidades são projetadas para que todas as necessidades cotidianas dos moradores sejam atendidas em percursos de até dez minutos a pé.

as pessoas de todas as classes sociais viverão perto do trabalho.

as práticas de sustentabilidade estão presentes em todo o ciclo de vida dos alimentos – produção, distribuição, descarte. Padrões globais regulamentam o cultivo orgânico e o trato aos animais, privilegiando os produtores locais.

A mobilidade urbana e regional são integradas

o transporte público é rápido, barato, seguro e conveniente, graças a tecnologias de automação.

a locomoção por carros será feita em veículos autônomos, elétricos e na maiorias das vezes compartilhados.

o transporte é diversificado: a região é interligada por ferrovias, linhas de ônibus e trens que alcançam altas velocidades.

drones de transporte serão utilizados: drones controlados a distância, maiores e mais potentes, levarão as pessoas de um ponto a outro da cidade.

núcleos adensados e servidos por trens de alta velocidade interligam as zonas de concentração de empregos.

Toda a energia é renovável

na cidade do futuro, a energia vem de fontes totalmente renováveis. A eletricidade é gerada na própria cidade ou nos arredores, garantindo assim a autossuficiência. Os edifícios da mesma área partilham os recursos energéticos.

A governança municipal é responsável

a utilização das tecnologias digitais são amplamente empregadas de forma inclusiva, segura, com respeito à privacidade de dados, gerando bem estar aos cidadãos e progresso econômico.

as infraestruturas de mobilidades urbanas, energia, água, gás, tráfego, saúde, educação, hospitais, defesa civil e outros serviços sociais são integrados de forma online, são preditivos e disponíveis aos cidadão em várias plataformas de comunicação.

o município oferece segurança e proteção aos seus cidadãos através de redes de câmeras de vídeo, áreas públicas bem iluminadas, patrulhamento e vigilância intensivos, acesso verificado por identidade e resposta rápida às chamadas de emergência.

os investimentos em tecnologias digitais para a educação, saúde e segurança do cidadão são prioritários.

os planos diretores do município são dinâmicos e feitos com o envolvimento dos cidadãos.

todos os serviços prestados aos cidadãos podem  ser imediatamente avaliados por eles e os dados podem ser compartilhados para todos.

o relacionamento com os setores de negócios é feito no sentido de gerar empregabilidade, riquezas e bons serviços para todos.

ela constrói sustentabilidade financeira através da obtenção de receita, com impostos sobre propriedade, anúncios,etc.

Este é apenas um cenário parcial das cidades do futuro.

Como construir cidades inteligentes?

Como mencionei antes de duas formas.

            Partindo das cidades atuais.

            Construindo novas cidades.

Partindo das cidades atuais

As coisas não acontecem de uma hora para outra e nem por acaso. Em primeiro lugar a governança municipal precisa estabelecer aonde elas querem chegar em cada assunto que envolve a administração e registrar o quanto estas áreas estão suportadas por tecnologias e aplicação de práticas de sustentabilidade. Com isto elas podem elaborar a estratégia inicial para alcançar os objetivos planejados para o futuro.

De pronto elas podem ampliar o que já tem e ao mesmo tempo envolver a população na estratégia inicial e desta interação fazer um refinamento da mesma. Sim, as estratégias modernas não são rígidas, são documentos vivos e isto não significa fragilidade na condução do rumo das mesmas pois, as mudanças são feitas baseadas em fatos. Nesta fase, muitas informações serão obtidas e necessitarão ser analisadas. Da análise destas informações o município poderá melhorar os serviços existentes e criar novos.

O retorno aos cidadão é muito importante pois muitas práticas só serão alcançadas com o envolvimento deles. Neste processo evolutivo os serviços serão cada vez mais abrangentes e também serão mais preditivos. Será uma descoberta a cada dia.

Cidades que estão nesta jornada de se tornarem inteligentes e alguns exemplos do que elas estão fazendo.

Nova York, Estados Unidos: Quase 300 sensores e câmeras são capazes de fornecer estatísticas e modificar os padrões dos semáforos em uma ampla região, resultando em uma melhora de 10% nos tempos de viagem desde que o programa foi implementado.

Amsterdam, Holanda: possui uma plataforma que oferece suporte e incentivo para que instituições, empresas e cidadãos desenvolvam projetos verdes, que podem beneficiar a qualidade de vida urbana de todos os habitantes.

Tóquio, Japão: desenvolvimento de inovações e medidas eficientes para controlar a quantidade de energia utilizada em casas e edifícios comerciais, como o gerenciamento inteligente da quantidade de eletricidade utilizada nesses locais.

Viena, Áustria: Mais de 90% dos residentes da cidade têm fácil acesso, com um sistema de cartão inteligente que calcula automaticamente taxas para qualquer meio de transporte.

Copenhagen, Dinamarca: Considerada uma das cidades mais inteligentes do mundo, Copenhagen se comprometeu atingir a emissão neutra de carbono até 2025. 40% da população da cidade utiliza a bicicleta regularmente como meio de transporte, e quando não há trânsito nas ruas, os semáforos se desligam automaticamente para economizar energia.

Curitiba, Brasil: 70% dos resíduos produzidos pelos habitantes é reciclado, e a prefeitura da cidade criou programas de incentivo como o Câmbio Verde, onde a população pode trocar seu lixo reciclável por frutas e verduras frescas.

São Francisco, Estados Unidos: Eleita a cidade mais verde dos Estados Unidos, São Francisco foi uma das primeiras do mundo a divulgar todos os seus dados burocráticos e administrativos à população. A cidade estabeleceu metas para diminuir sua emissão de carbono, aumentando o uso de energias renováveis em novas construções. Atualmente, 41% da rede elétrica da cidade é alimentada com energia renovável.

Barcelona, Espanha: sensores inteligentes e análises de big data sobre tudo, desde estacionamento e transporte até coleta de lixo, qualidade do ar e irrigação de terrenos.

Singapura: segurança pública relacionada a proteção de dados, transporte inteligente, além de infraestrutura e energia duradouras. 

Óbvio que estas cidades estão fazendo muito mais do que mencionei e muitas estão nesta jornada há décadas, são só alguns exemplos.

Construindo novas cidades

Na verdade podemos dizer que são novas cidades construídas em lugares aonde não havia nada mas, também em criação de novos bairros e revitalização total de bairros existentes.

Vamos ver alguns exemplos:

Forest City, Malásia: Projetada para abrigar 700 mil pessoas, a Forest City, da Malásia, terá 14 quilômetros quadrados, quatro vezes maior que o Central Park de Nova York. O empreendimento fica em terras recuperadas do mar e não terá carros. Arranha céus cobertos de plantas buscam reduzir o ruído e a poluição do ar. A obra tem conclusão prevista para 2035 e poderá gerar 220 mil empregos.

Belmont, EUA: Bill Gates, fundador da Microsoft está criando uma cidade inteligente no deserto do Arizona chamada de Belmont para 182 mil habitantes e se concentrará na qualidade de vida, na conectividade à internet, carros autônomos, semáforos inteligentes que visam minimizar o congestionamento.

Songdo, Coreia do Sul: O Distrito Empresarial Internacional (IBD) da cidade de Songdo, na Coréia do Sul, foi projetado para maximizar o transporte público e substituir os carros. O plano é que a maioria dos escritórios, escolas e edifícios não residenciais estejam próximos a prédios de apartamentos, para estimular o deslocamento a pé.

Masdar City, Emirado de Abu Dhabi: Quer se tornar um exemplo mundial de comunidade sustentável e autossuficiente em energia – a qual será garantida quase na totalidade por sistema solar. A iniciativa vai abrigar 40 mil habitantes e 1,5 mil empresas de tecnologia limpa. Todas as ruas de Masdar contarão com prédios projetados em ângulos que facilitam a criação de sombras e ajudam na manutenção de uma temperatura agradável. A cidade estará livre de congestionamentos – o sistema de transporte, todo elétrico, vai operar no subsolo.

Smart City Laguna, Brasil:
Com infraestrutura de alto padrão, o modelo conta com um aplicativo gratuito para os moradores que é capaz de integrar as diferentes funções e serviços de uma casa remotamente como ligar e desligar os dispositivos, monitorar seu consumo de energia e muito mais.

Conclusão

Sem dúvida teremos que empregar muita criatividade para adaptar as atuais cidades e, para a construção de novos núcleos e também de novas cidades. Os governantes, investidores, empresários e especialistas terão que ser, além de visionários, empreendedores e colocarem a mão na massa para acomodar o crescimento populacional e também para resolver os problemas de sustentabilidade da humanidade no planeta. Todo este esforço terá que ser feito com o envolvimento e participação dos cidadãos.

Abaixo selecionei alguns vídeos para mostrar conceitos e exemplos concretos sobre a construção das cidades inteligentes, as cidades do futuro.

Assista aos vídeos:

O que é uma cidade inteligente: 




5 Cities of the future Kyron Gosse: 

Neste vídeo, veremos as cinco principais cidades que estão adaptando a tecnologia e tornando a cidade um lugar melhor para morar para seus moradores. Desde cidades existentes passando por uma reforma até novas cidades sendo construídas a partir do zero. Estas são as 5 cidades futuras em que devemos estar de olho.



 


Consulte e veja mais vídeos sobre Cidade inteligentes, as cidades do futuro e outros temas na Página Vídeos recomendados

 

Referências:

Cidade do Futuro | National Geographic Brasil

Smart cities | a transformação digital das cidades

Cidade e urbanização | World Economic Forum

Smart cities: a revolução tecnológica chega às cidades | Iberdrola

Conheça as cidades do futuro que estão sendo construídas do zero |  Micaela dos Santos

Dez atributos que descrevem uma cidade inteligente | Smartmatic

Masdar City: a cidade do futuro nasce no deserto árabe | exame.abril

What is a smart city | CNBC Explains

Uma cidade não é um computador | Shannon Mattern

O futuro das cidades: aproveitando o poder transformador das tecnologias exponenciais | Dr. Peter H. Diamandis

 

 

 

 

 

 

 


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